quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Aquele jeitinho brasileiro! (RH)

Todos que somos brasileiros um dia já demos de encontro com o termo ou ditado “esse é o jeitinho brasileiro”, assim através também deste termo Lívia Barbosa resolveu estudar e investigar como funciona o jeito do brasileiro de resolver as coisas e como isto é visto pelas pessoas como um todo em volta e ela também fez críticas a publicações anteriores à dela. Assim, ela escreveu um livro chamado de “jeitinho brasileiro” descrevendo sobre o aspecto dela como pesquisadora da área.

Observou-se, que por todo o Brasil esse termo e essas atitudes das pessoas fazem parte de todos os seguimentos e classes sociais, tornando a pesquisa bem ampla e com grande complexidade, pois o país tem grandes variedades de culturas que envolvem pessoas com atitudes diversas. Neste estudo da escritora e pesquisadora mostra que desenvolvimento do Brasil acaba sendo influenciado por atitudes comuns de muitos e muitos brasileiros, os quais tomam posições até mesmo baseadas neste termo que acaba virando um paradigma ou sofisma. Por se tornar um paradigma não significa que o “jeitinho” não seja utilizado para o bem da sociedade, pois disse que ele é um mecanismo que ajusta posições, relações e atitudes tanto para o bem próprio quanto para o bem coletivo, mas muitas vezes sendo usado como modo de se aproveitar de uma situação ocorrida ou problema. Ele é algo que pode identificar situações entre a legalidade e a ilegalidade sendo ela, a ilegalidade, algo que acaba virando rotineiro e que muitos toleram mesmo sendo vigilantes da lei geral, o que trás à tona que o jeitinho pode tanto beneficiar como danificar uma situação, afetando até mesmo o modo como as empresas lidam com seus clientes ou funcionários ou fornecedores, pois os mesmos também são brasileiros e podem se utilizar dessa malícia para conquistarem algo dentro ou fora da organização, tornando-se algo do cotidiano do brasileiro lidar com isso.

A autora relaciona o jeitinho com a questão do subdesenvolvimento social e econômico, principalmente tratando-se do processo de industrialização, deixando de lado a complexidade do ingresso do Brasil ao processo de desenvolvimento. Pois ele se dá no eixo oposto da racionalidade e do econômico, isto é, o sistema burocrático é baseado em critérios diversos que se deixam influenciar por relações e valores de ordem impessoal. A impessoalidade nas relações pessoais no Brasil estaria crescente, assim o jeitinho realmente estaria começando a cair em desuso devido ao processo de desenvolvimento que o Brasil vem sofrendo, tirando muita coisa da informalidade e trazendo para o formal. Mas, isso não é real, pois em muitas classes ainda se valoriza a representação da racionalidade e a igualdade de se viver num mundo diferenciado.

A história da formação do Brasil trás em si a informalidade, como no comércio que por muitos anos era completamente informal, não se comparando tão cedo com o comércio Europeu, então os costumes de se virar de alguma forma para se conseguir um ótimo benefício virou rotineiro e natural do cidadão que esteja neste país que foi colonizado por diversas culturas. Foi-se unificando a idéia de que o brasileiro daria um jeito para se conseguir escapar da escravidão, do prejuízo ou até mesmo de uma doença. A lei existente por muito tempo era a de que não tinha lei no Brasil para questões de interesses próprios na questão de que os brasileiros por longas faixas de terra faziam a sua própria lei, tendo o mesmo sempre que se aproveitar do melhor que estaria disponível para alcançar o seu objetivo sem dar muita vez para a lei geral. A autora não acredita que o jeitinho é característica exclusiva e comum dos países latinos. Para existir o jeitinho é preciso que haja uma escolha social, em peso social atribuído a esse tipo de mecanismo.

A arte de se adaptar ao inesperado é evidente neste tema do jeitinho brasileiro acreditando-se que os aspectos corruptos do jeito retardam também a eficiência administrativa, além de causar prejuízo moral grande, expresso no desrespeito constante às leis. Também, pelo fato dessa instituição funcionar como válvula de escape, ela acaba por impedir o surgimento de uma pressão social efetiva que leve a mudanças tão necessárias no nosso aparato legal e administrativo, mas isso é algo que não se pode generalizar com referência a todas as atitudes tomadas visto que seja realmente um jeito do brasileiro tomar uma decisão.

A utilização ou maximização do poder como algo que possa ser aproveitado de forma veemente, trás consigo a visão de que se você está no poder, então se beneficie dele para alcançar o que for necessário alcançar para o seu benefício, mas não quer dizer que o jeitinho brasileiro toma parte só do individual, mas também do coletivo. Pessoas que participam de instituições burocráticas foram pesquisadas sobre a questão do poder e os benefícios encontrados, que poderiam causar um modo diferente de se dizer que seria um jeitinho brasileiro de se conquistar algo que vise o coletivo ou individualismo. Todos os entrevistados relataram que conhecem, praticam ou fazem uso das expressões jeitinho brasileiro ou dar um jeito. O jeitinho brasileiro é algo universal dentro da sociedade brasileira. Além do termo jeitinho, outros sinônimos são usados pelos entrevistados como quebra-galho, malandragens, jogo de cintura e ginga. Segundo a pesquisa o jeitinho é utilizado desde por um simples faxineiro, até pelo presidente do país, e a diferença entre um e outro seria o que cada um consegue mobilizar. A burocracia é o domínio do jeitinho. A burocracia é teoricamente racional, impessoal, anônima e faz uso de categorias intelectuais, já o jeito faz uso de categorias emocionais. Segundo a maioria dos entrevistados, o sexo é um dos fatores que mais influi na obtenção ou não do jeitinho. Quando a situação envolve pessoas do sexo oposto, as coisas ficam mais fáceis. Quando a pessoa que se encontra na posição de dar o jeito for do sexo masculino, e a que vai receber do sexo feminino, a situação fica bem mais fácil para a mulher, pois fatores como o charme, a sedução e a paquera estão presentes. Além disso, a mulher é mais delicada e tem mais tato para lidar com esse tipo de situação.

A discussão negativa quando se refere às esferas políticas e econômicas evidencia distorções institucionais e o aspecto negativo do jeitinho. Por outro lado o discurso positivo, quando se refere às relações sociais, é considerado como um mecanismo salutar, que humaniza as regras a partir da igualdade moral entre os homens e das desigualdades sociais. O discurso do jeitinho pode ocorrer de forma positiva, negativa ou um misto dos dois, dependendo do contexto a que a pessoa estiver se referindo: da prática ou da representação. Na composição interna o discurso positivo é utilizado por pessoas de nível educacional inferior ao das pessoas que o usam o discurso negativo, os burgueses e universitários. O discurso negativo se encaixa com perfeição em um conjunto de valores partilhado pela elite intelectual e política do país e é apresentado como discurso de vanguarda, de mudança, ou renovado. As características do “jeitinho brasileiro” são facetas primordiais ou essenciais para o brasileiro. O primeiro é "Dar um Jeitinho”, sendo um drama brasileiro, o segundo é o "Jeitinho Brasileiro", elemento tomado em determinados contextos para nos definir como país e como povo. Nessa perspectiva, "dar um jeitinho" traduz-se num artifício entre o "legal" e o "ilegal". Independentemente da situação, o "jeitinho", nesse caso, se manifesta como uma solução harmoniosa, satisfatória num determinado momento, muitas vezes, ignorando a gravidade do problema.

O brasileiro acaba ficando viciado com o sistema que já impõe a ele a ficar nessa situação de sempre dar um jeitinho brasileiro em tudo o que o próprio arruma ou tenta arrumar. Acaba tornando-se algo comum para todo e qualquer brasileiro a posição de ser um brasileiro autêntico que sempre toma uma decisão sendo legal ou não, mas para se conquistar algo melhor de um “jeitinho brasileiro”.

Baseado no livro: BARBOSA, Livia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. -. 2. ed. - Rio de Janeiro: Campus, 1992. 153p.

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